Publicado em:segunda-feira, 8 de setembro de 2014
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Desenvolvimento urbano: por que São Luís não anda nos trilhos?

Especialista defende a criação do transporte ferroviário urbano.

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Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Motoristas impacientes e motoqueiros cortando filas de carros e ônibus. No próprio espaço, ciclistas se arriscam entre os veículos maiores, e os carroceiros seguem em sua letargia característica. Esta é a descrição do trânsito em todas as avenidas da capital maranhense. Aos 402 anos, São Luís sustenta-se por seus séculos de glória estampados no acervo colonial, que há muito se mostra fragilizado. Assim, também, se encontra o restante do município, onde o desenvolvimento parece vir a pé.
Mas, e se viesse de trem? O engenheiro Luiz Phelipe Andrès, mestre em Desenvolvimento Urbano, em entrevista ao Imirante.com, aponta a criação do transporte ferroviário urbano como solução determinante para promover a qualidade de vida neste espaço. “Quando se instala um sistema ferroviário na malha urbana, propicia-se a solução para um problema gravíssimo, hoje, da cidade, que é a questão dos congestionamentos. Isso está infernizando a vida das pessoas. Você tem horas que não consegue transitar”, defende.
Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.
São Luís vivenciou parte do auge da história das ferrovias, com trens que cortavam municípios transportando cargas e, também, pessoas. Na Avenida Beira-Mar, o prédio imponente e a velha locomotiva a vapor da antiga estação da Rede Ferroviária Federal (RFSSA) testemunharam um passado em que marias-fumaça percorriam bairros como João Paulo, Monte Castelo e Liberdade. Além deles, linhas de bondes levavam passageiros de um ponto do Centro a outro. O historiador e pesquisador Gilson Oliveira explica como eram os transportes ferroviários que ligavam São Luís e Teresina. “Havia o comercial ou trem de carga e havia o trem de passageiros. O de passageiros, chamavam de horário. Outra modalidade era o trem misto: carga e passageiro. E ainda tinha um de recreio”, explica.
Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Oliveira relata que a chegada sistema ferroviário em São Luís foi tardia e que, pouco durou, principalmente, por falta de investimento. Desativados no Brasil, no fim do século passado, os trilhos foram substituídos pelo asfalto. A população passou a sonhar com o carro na garagem. Mas, é nas ruas que ele se torna um pesadelo.
Andrès aponta as vantagens do transporte ferroviário com relação ao das rodovias. “Acabaram com ferrovias para construir rodovias. O projeto rodoviário é muito mais vulnerável porque asfalto não resiste à água. Quando se constrói uma ferrovia com trilhos de aço, ela dura indefinidamente. Já o asfalto você tem que renovar a cada ano. A obra rodoviária quando fica pronta já está saturada porque leva anos para ser terminada. E não há alargamento de avenida que resolva. Porque quando se cria um ambiente favorável para o automóvel, só aumenta a quantidade”, critica.
Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Além das ferrovias, o engenheiro destaca que o transporte hidroviário poderia ter sido aproveitado. “É difícil entender por que o Brasil abandou a navegação. Aqui no Maranhão se fazia comunicação pelo rio Mearim, pelo Itapecuru”, conta.
Para Andrès é preciso mudar a política de transporte, com a recuperação do hidroviário e do ferroviário, interestadual e nas áreas urbanas. “A influência do transporte ferroviário no meio urbano é decisiva. O bonde daria certo nos dias de hoje. Transporte barato, arejado, seguro, não fazia barulho, não poluía. Se a gente tivesse mantido o sistema ferroviário teríamos linhas suficientes e não estaríamos sofrendo. É preciso começar a instalar metrô de superfície, VLT, monotrilhos”, diz. Ele ressalta que é necessário, além disso, considerar a água como uma via. “Não se tem que investir na manutenção dessa via. Instantaneamente, ela se refaz e fica nova. Como dizia meu pai, ‘a hidrovia é uma estrada que se conserta assim que o veículo passa’”, conclui.
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